Workweek e distribuição de renda

Talvez não seja coincidência que durante minhas visitas a livrarias em Nova York eu tenha me interessado pelos livros “Making globalization work”, do Stiglitz (lendo), e pelo “the 4 hour workweek”, do Tim Ferris (ainda não li).

No primeiro, fui lembrado daquele velho debate sobre subsídios agrícolas nos países ricos contra agricultores miseráveis no resto do mundo. E qual a relação com o segundo?

Bom, acho que passar de uma semana de 40 horas para uma de 4 horas é possível, e é um problema principalmente de coordenação e reeducação… Mas coordenar e reeducar são das coisas mais difíceis que se pode fazer, ainda mais quando isso envolve populações inteiras. Apesar de ter um enfoque individual, acho que o segundo livro representa um primeiro sinal de que está ocorrendo o desenvolvimento das habilidades e desprendimentos necessários para se atingir a coordenação.

Estamos vendo desemprego de 2 dígitos os países ricos. Se a coordenação for possível, os europeus e americanos ficarão mais felizes pois poderão trabalhar menos. Ao mesmo tempo, o desemprego cairia pois o bolo de trabalho liberado seria dividido entre os desempregados. Haveria uma queda de renda dos que estão atualmente empregados, mas isto seria compensado pela recuperação de renda dos desempregados.

Essa liberação de trabalho acomodaria também uma queda dos subsídios. Os países pobres passariam a exportar mais aos países ricos. A renda destes subiria. A demanda por bens de alto valor agregado então subiria junto, beneficiando os países ricos de volta. Todos estariam melhor.

O aumento da produtividade é o que está por trás do aumento sustentável da renda (como vimos no “fluxograma” uns dias atrás, o aumento de renda no Brasil não foi acompanhado de aumento de produtividade e foi eventualmente engolido pela inflação). Mas a produtividade não aumenta apenas com qualificação de mão-de-obra. Ela aumenta também com disponibilidade de capital (a relação capital/trabalho é alta). Se pensar na definição de produtividade e levá-la ao limite, um grupo cada vez menor de pessoas seria capaz de satisfazer toda a demanda agregada da economia. Esse grupo concentraria também toda a renda. Com isso fica demonstrado que em algum momento a workweek de 40 horas vai ter que se ajustar para que os ganhos de produtividade sejam partilhados pela população. Num mundo em que a workweek de 40 horas é vista como um verdadeiro tabu intocável, um mecanismo de distribuição de renda é bloqueado. De fato a workweek de 40 horas é uma externalidade econômica. Nada mais que um ponto artificialmente fixo, numa curva que deveria se mexer livremente conforme o nível de renda da economia.

Concluindo: Será que o catchup de emergentes x desenvolvidos não passa pela constatação, por parte dos ricos, de que está chegando uma fase no desenvolvimento deles em que a produtividade (e a renda, por consequência) é tão alta que você pode deliberadamente cortar horas de trabalho e redistribuí-las com as classes menos favorecidas (neste caso, agricultores sem subsídios, desempregados, e agricultores em países pobres)? Será que a recusa em chegar a esta constatação não é o principal mecanismo de perpetuação, ou ainda, aprofundamento da desigualdade social ao redor do globo?

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